Agosto chegou após um início de semestre movimentado e cheio de reviravoltas. A perspectiva de cortes na Selic, a incerteza das tarifas de Donald Trump e o desempenho da bolsa em julho abriram caminho para novas oportunidades de investimento, segundo os analistas da Empiricus Research.
O mês começou com a herança deixada por julho: a queda de 4,2% do Ibovespa e o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos — a taxação está programada para entrar em vigor nesta semana, com a exclusão de quase 700 itens.
O início do segundo semestre também trouxe a manutenção da Selic em 15% e a vitória do governo Lula na queda de braço do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
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Do lado internacional, os principais índices dos EUA ganharam fôlego durante julho, alcançando máximas históricas, puxadas pelas ações de tecnologia e pelo cenário mais leve com acordos comerciais firmados com diversos países — inclusive com a União Europeia. Já o aguardado acordo com a China continua sendo desenhado.
Após a montanha-russa de julho, os analistas da Empiricus Research compartilham recomendações de investimento para o mês de acordo, de olho nas melhores oportunidades em ações locais e internacionais, fundos imobiliários (FIIs), criptomoedas e ativos com foco em dividendos. Confira um resumo a partir de agora.
Confira as recomendações do Onde Investir para ações, dividendos, fundos imobiliários e ações internacionais em junho:
Ações brasileiras
Larissa Quaresma vê boas opções na bolsa mesmo com as tarifas de Trump.
A analista da Empiricus pontua que as exceções às tarifas de 50% sobre produtos brasileiros aliviaram a pressão sobre os índices da B3 — o anúncio inicial da taxação fez os investidores estrangeiros retirarem cerca de R$ 5 bilhões da bolsa brasileira.
“Para os lucros das empresas essa é uma excelente notícia, pois significa que as exportadoras — por exemplo, as de papel e celulose — não terão mais esse mercado consumidor ameaçado. A situação melhorou muito, embora ainda possamos levar mais algumas semanas até que isso volte a ser incorporado aos preços dos papéis”, diz.
Segundo estimativa do Ministério da Fazenda, em 2025 o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 2,5%. O impacto estimado, após a lista de exceções, é de 0,2% do PIB.
Para Quaresma, o setor de papel e celulose foi um dos beneficiados pelas isenções. Com isso, a Suzano (SUZB3), que tem aproximadamente 15% da receita proveniente dos EUA, desponta como vencedora entre as ações em julho.
“O esperado é que a Suzano deixe de ter esse risco relacionado às tarifas, já que as exportações de celulose seguem viáveis e competitivas no mercado norte-americano.”
Por outro lado, empresas que exportam equipamentos industriais, motores e refratários — como é o caso da WEG (WEGE3) — acabam perdendo competitividade no mercado norte-americano.
“Empresas industriais maiores têm certa flexibilidade para rearranjar a produção, pois possuem fábricas em vários continentes. Mas isso não acontece da noite para o dia, leva tempo. Por isso, devem sair prejudicadas nesse momento”, afirma.
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Sobre a Selic, Quaresma destaca que o início de cortes na taxa básica de juros deve começar a ser incorporado aos preços das ações brasileiras.
“Isso resultará em um custo de capital mais baixo, o que pode levar a um crescimento de lucro corporativo mais saudável em 2026.”
Ela avalia ainda que o dólar deve continuar perdendo força, não só em relação ao real, mas também em comparação a outras moedas emergentes.
Para ações com potencial em agosto, Quaresma ressalta que, ao escolher onde investir, é preciso ter cautela com empresas alavancadas e priorizar aquelas com qualidade e previsibilidade na execução de seus modelos de negócios.
A analista destaca que as ações da Porto Seguro (PSSA3), Itaú (ITUB4), Suzano e Petrobras (PETR4) devem se sair bem na bolsa brasileira neste mês.
Dividendos
Mesmo em um ambiente em que algumas empresas mais expostas às tarifas têm sofrido efeitos negativos, esse não foi um grande problema para as recomendações da carteira de dividendos da Empiricus, a Vacas Leiteiras, que você pode acessar clicando aqui.
Em um cenário de muitas mudanças e volatilidade, como destaca Ruy Hungria, as empresas pagadoras de dividendos tendem a ser menos sensíveis às movimentações diárias do mercado.
“As empresas brasileiras na carteira de dividendos, de certa forma, não tinham exposição direta — e isso se refletiu no desempenho do mês. O Ibovespa caiu forte, e nossa carteira conseguiu ficar praticamente estável, o que é um grande resultado, se você fizer uma análise comparativa com boa parte das ações caindo”, afirma o analista da Empiricus.
Ele chama atenção para o fato de que, em momentos de incerteza, ter ações pagadoras de dividendos — preferencialmente menos expostas aos EUA — é uma estratégia interessante para obter retorno consistente, sem ser tão afetado pela volatilidade.
“Há também um fator importante: sempre tentamos escolher para a carteira empresas que estejam negociando por múltiplos de dívida líquida sobre Ebitda baratos.”
Na avaliação de Hungria, julho trouxe boas surpresas. Fleury (FLRY3) ganhou força com a notícia de que a Rede D’Or (RDOR3) estaria interessada em suas ações, o que fez os papéis dispararem e impulsionarem o desempenho da carteira.
Quanto à Petrobras, os números de produção chamaram atenção, mas o impacto no pagamento de dividendos não deve ser expressivo, devido à queda no preço do petróleo desde abril.
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Ainda assim, a produção robusta da estatal ajuda a mitigar os efeitos da desvalorização da commodity.
O dividend yield da Petrobras neste trimestre deve ficar em torno de 3%, com possibilidade de superar 10% no ano — podendo até chegar a 12%, dependendo da produção e da cotação do petróleo, nos cálculos de Hungria.
Em termos de retorno, a estatal segue se destacando entre as maiores da bolsa brasileira, mantendo-se como uma opção atraente para dividendos e permanecendo na carteira em agosto.
A principal mudança na carteira Vacas Leiteiras é a saída do Fleury, após os fortes ganhos em julho. Apesar de ainda gostar da companhia, Hungria acredita que o papel perdeu espaço depois da alta recente.
No lugar de Fleury entra a Porto Seguro, que voltou a cair por conta de fatores macroeconômicos e receios ligados ao tarifaço.
O analista acredita que a seguradora está com um desconto atrativo, paga bons dividendos e possui um perfil defensivo, menos sensível à alta dos juros.
Fundos Imobiliários
O IFIX, principal índice dos fundos imobiliários (FIIs), vinha de cinco meses de alta, mas julho trouxe um cenário mais desafiador para os investidores. Caio Araujo, analista da Empiricus e responsável pela carteira Top Picks, explicou o movimento e dá dicas de como se posicionar agora.
“Uma combinação de fatores, alinhada ao comportamento do Ibovespa, influenciou essa queda — incluindo questões políticas, polêmicas no ambiente institucional, o tarifaço de Trump e suas implicações fiscais e eleitorais”, afirmou.
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Ele também diz que para a correção de lucros no mercado é algo natural — essa realização causou uma queda mais expressiva nos FIIs, embora ainda moderada quando comparada às ações.
“É um movimento esperado em um ambiente de maior aversão ao risco, com muitos investidores preferindo realizar lucros após cinco meses de alta”, afirma.
Os fundos de crédito — ou fundos de papel — seguem beneficiados pela Selic elevada, segundo Araujo, para quem o componente da correção monetária das operações (seja CDI ou IPCA) ajuda no rendimento.
Nos fundos atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), houve pagamentos elevados no primeiro semestre, mas há mais oscilação devido à sazonalidade do índice, segundo o analista.
“O risco é que uma Selic elevada pode causar desaceleração econômica — e, com isso, aumento do risco de crédito. No mercado imobiliário, vale atenção às operações com risco de obra (dependem da incorporadora) e também ao agro, nos fundos de agronegócio (Fiagros) atrelados aos Certificados de Depósito Interbancário (CDI).”
Para ele, a avaliação geral é de que o mercado tende a oscilar no segundo semestre. Por isso, escolher fundos de crédito de qualidade é essencial.
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Em relação aos fundos de tijolo, ligados diretamente a imóveis físicos, a operação está saudável, segundo o analista. A vacância se estabilizou em shoppings e galpões logísticos, e os escritórios — os mais penalizados nos últimos anos — têm mostrado melhora na taxa de ocupação.
Apesar dos sinais positivos, Araujo ressalta que os fundos de tijolo foram os que mais sofreram em julho — ao lado de alguns hedge funds — pois, em ambientes voláteis, tendem a apresentar mais oscilações.
“Diante da correção nas cotações, alguns fundos abriram oportunidades de entrada. Vale olhar para o médio e longo prazo.”
Com isso, Araujo atualizou a seleção de FIIs da carteira da Empiricus.
“Incluímos o fundo HSI Malls (HSML11) na carteira Empiricus Top 5 FIIs. É um fundo de shoppings bem conhecido, com portfólio diversificado e listado desde 2019. Em agosto, essa é nossa principal indicação”, explicou.
O fundo teve uma correção exagerada em julho e agora apresenta boa perspectiva de ganho de capital de dois dígitos, além de um dividend yield crescente no segundo semestre, segundo o analista.
Ações internacionais
No cenário internacional, os recordes dos índices acionários nos EUA em julho, impulsionados pelas ações de tecnologia e pelos avanços nos acordos comerciais, entraram no radar dos investidores.
“A gente já vem comentando há algum tempo sobre o ‘Taco Trade’ (sigla para Trump sempre amarela), com o republicano sempre recuando de suas posições iniciais. Parte relevante desses ganhos em Wall Street desde abril está relacionada a essa dinâmica de tarifas: Trump anuncia uma taxação de 30%, depois corta pela metade”, afirmou Enzo Pacheco.
O analista da Empiricus explica que, embora pagar 15% seja um alívio em relação aos 30% inicialmente anunciados, é importante lembrar que, no início do ano, muitos esperavam tarifas de no máximo 10%.
“É claro que pagar menos do que os 30% anunciados é melhor, mas ainda assim esses níveis podem gerar problemas inflacionários”, diz o analista, apontando para a necessidade de cautela para agosto.
Outro fator importante a ser considerado antes de investir no mercado internacional é que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), pontuou a necessidade de continuar combatendo a inflação — e as tarifas estão começando a aparecer nos preços nos EUA.
Conforme esperado, na semana passada, o Fed manteve a taxa básica de juros na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano.
A decisão, no entanto, não foi unânime. Michelle Bowman e Christopher Waller defenderam o corte de juros em 0,25 ponto percentual (p.p.) neste encontro. A dissidência chama atenção, já que Waller está entre os possíveis candidatos a substituir Powell no comando do Fomc (Comitê de Política Monetária dos EUA) e pode ser um sinal na direção do afrouxamento monetário.
A mensagem de Powell foi clara, segundo o analista: o Fed vai fazer o que for necessário para que a alta de preços seja apenas momentânea. Com isso, a chance de corte em setembro caiu para menos da metade — sendo que, até duas semanas atrás, o mercado via isso como quase certo.
“Produtos importados como brinquedos, utensílios domésticos e vestuário são os mais afetados pelas tarifas, e isso já está refletido nos índices inflacionários. Consequentemente, as empresas de varejo que vendem esses itens também são impactadas”, afirma.
Por outro lado, as companhias de tecnologia têm se destacado, com um desempenho “descolado” do tarifaço, especialmente por conta dos avanços na inteligência artificial. No entanto, Pacheco alerta que, se surgirem tarifas sobre semicondutores, isso poderia reduzir os investimentos.
“Por enquanto, não estamos vendo esse impacto. As empresas que já divulgaram resultados anunciaram aumento nos investimentos, então o setor de tecnologia parece estar fora dos efeitos inflacionários das tarifas”, afirma.
Com base no cenário atual, o analista fez ajustes na carteira recomendada para agosto.
“Antes, a carteira estava equilibrada entre setores tradicionais e de tecnologia, mas os últimos meses mostraram que os investidores estão buscando mais tecnologia.”
Pacheco aumentou a exposição ao setor de tecnologia, reforçando a posição na Meta — a dona do Instagram, do Facebook e do Whatsapp —, que reportou um excelente resultado no segundo trimestre e ainda possui um valuation atrativo.
Além disso, ele voltou a incluir a Taiwan Semiconductor (TSMC), que teve crescimento de receita de 40% e lucro líquido de 50% no período.
Em contrapartida, Pacheco reduziu a posição na UnitedHealth (UNH), a maior seguradora norte-americana, que tem enfrentado dificuldades nos últimos trimestres.
Outra adição foi a Novo Nordisk (NVO), fabricante do Ozempic, famoso medicamento para emagrecimento.
“A farmacêutica enfrentou forte concorrência, especialmente de medicamentos genéricos, devido à escassez do original nos EUA. Embora houvesse uma expectativa de resolução, os genéricos continuam sendo vendidos, o que levou a empresa a revisar para baixo seu guidance”, completou.
Criptomoedas
O início do semestre foi positivo para as criptomoedas, com julho apresentando marcos importantes que ajudaram no bom desempenho do mês. Para Marcelo Cestari, especialista da Empiricus Asset, o principal impulso foi a aprovação das leis de stablecoins nos EUA.
“Teve um impacto significativo no mercado como um todo. Acredito que essa questão regulatória deve seguir no radar nos próximos meses”, afirma.
O único risco para os ativos digitais a ser monitorado, segundo Cestari, é a decisão do Fed em relação aos juros norte-americanos e a recente reunião do FOMC, que indicou que os cortes não devem ocorrer tão cedo quanto o mercado esperava.
Apesar disso, ele segue otimista e estima que, até o fim deste ano, o bitcoin (BTC) pode chegar a US$ 150 mil, principalmente com o movimento dos Exchange Traded Funds (ETFs) — não só da criptomoeda mais valiosa do mundo, mas também, por exemplo, ligados ao ethereum (ETH).
Outro marco para o setor foi a aprovação pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) do modelo de criação e destruição de cotas de ETFs “in kind”.
Na prática, isso permite que investidores entreguem ou recebam criptoativos diretamente, sem a necessidade de conversão para dinheiro.
“Isso tira pressão de venda. Antes, quando um investidor resgatava um ETF, o gestor precisava vender os criptoativos e devolver o valor em dinheiro. Agora, ele pode devolver o próprio criptoativo. Esse modelo traz benefícios significativos para o mercado, pois reduz a pressão vendedora e, consequentemente, diminui a volatilidade”, afirma.
No horizonte, existe a possibilidade de uma altseason, de acordo com o especialista. Durante essa “estação”, o mercado de criptomoedas tende a ver mais valorização em altcoins, superando geralmente o desempenho do bitcoin.
“Dessa vez será diferente das anteriores, porque hoje o mercado está mais institucionalizado, há muito mais tokens e, por consequência, menor liquidez. Mas o ethereum deve liderar o movimento. Os ETFs da altcoin chegaram a captar mais que os de bitcoin nas últimas semanas, o que mostra uma mudança no apetite por risco.”
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Com esse cenário, Cestari destaca o setor de stablecoins como um dos mais promissores para agosto, com grande atenção voltada a projetos que seguem os padrões regulatórios em avanço.
“Estou de olho em projetos ligados ao setor de moedas estáveis — um dos mais promissores agora. Um deles é o ethena (ENA), que já possui sua própria stablecoin e segue os novos padrões da legislação norte-americana”, afirma o especialista.
Ele ressaltou que o ethena possui parcerias com instituições de peso, incluindo a possibilidade de ser usado como colateral em fundos tokenizados da BlackRock, o que demonstra sua integração com o mercado institucional norte-americano.
“Com a regulação avançando, esses projetos podem se beneficiar bastante”, concluiu Cestari.
Veja o episódio completo do Onde Investir em agosto:
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