O encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana foi descrito como “sem emoção”. Diante da sinalização de manutenção da taxa Selic em 15% ao ano por “tempo prolongado” no último encontro, não havia expectativa de mudança na decisão desta quarta-feira (30).
Todos os diretores do Banco Central decidiram de forma unânime manter a taxa básica de juros em 15% ao ano. Com isso, a Selic permanece no nível mais alto desde julho de 2006.
Segundo o comitê e a maior parte do mercado financeiro, a política monetária já está suficientemente contracionista para conduzir a inflação à meta de 3%. O momento agora é de observar os efeitos na economia real.
“O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados”, diz o texto desta quarta-feira.
Recentemente, dados de inflação surpreenderam positivamente, ficando abaixo das projeções do mercado e levando bancos e gestoras a revisarem para baixo suas estimativas para o IPCA no ano.
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Além do alívio nos números, indicadores qualitativos também mostraram melhora na margem. Houve desaceleração em grupos relevantes, como serviços, e na média dos núcleos — recorte do IPCA que desconsidera itens voláteis para aferir o comportamento mais persistente dos preços.
Na frente da atividade econômica, o índice do Banco Central (IBC-Br) recuou 0,7% em maio, surpreendendo negativamente o mercado. Os dados recentes da indústria também foram negativos, enquanto os serviços apresentaram alguma acomodação.
Para Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica do Goldman Sachs, esse desempenho está dentro do esperado, já que é nessa direção que a política monetária atua. Apesar disso, ele avalia que o processo tem ocorrido de forma lenta e com dificuldades.
Balanço de risco do Copom
Todas as ponderações sobre inflação, atividade econômica, mercado de trabalho e câmbio aparecem no balanço de riscos do Copom. O comitê reiterou no comunicado que os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, continuam mais elevados que o usual.
A inflação corrente, medida pelo IPCA, atingiu 5,35% em junho — bem acima da meta de 3% e do teto de 4,5%. Além disso, as expectativas futuras, captadas pela pesquisa Focus, também permanecem desalinhadas da meta.
Esse desalinhamento, conhecido como “expectativas desancoradas”, representa um dos principais riscos de alta para os preços, segundo a avaliação do BC.
O comunicado também destaca como riscos uma maior resiliência na inflação de serviços ante o projetado, em função de uma atividade acima da sua capacidade, e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna com impacto inflacionário maior que o esperado.
Economistas avaliam que a inflação corrente precisa mostrar mais sinais de alívio nos próximos meses para que o Copom se sinta confortável em iniciar os cortes na taxa Selic.
Mas não só isso. As expectativas futuras também precisam convergir para um valor mais próximo da meta — não basta apenas uma melhora na inflação atual. Entenda essa relação aqui.
O Copom também apontou fatores que podem favorecer a queda da inflação:
- Desaceleração mais acentuada do que a projetada na atividade econômica, com impactos sobre o cenário de inflação;
- Desaceleração global mais pronunciada, decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e
- Redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.
E o tarifaço dos Estados Unidos?
O Copom afirmou que está acompanhando “com particular atenção” os anúncios sobre a imposição de tarifas dos Estados Unidos ao Brasil.
Além disso, o comunicado também cita que o ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, “principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos”.
Para Flávio Serrano, economista-chefe do Banco Bmg, o tom do comunicado em relação às tarifas foi acertado por mencionar o assunto com foco na incerteza que as políticas comerciais do país norte-americano tem gerado.
“No geral, o comunicado reforça nossa percepção de manutenção da taxa Selic no atual patamar por um período bastante prolongado. Caso nossas projeções se mostrem corretas nos próximos meses, acreditamos que o BC poderá voltar a cortar as taxas de juros no início de 2026”, diz o economista.
Como ficam os investimentos com a Selic em 15%?
Com juros elevados, a preferência dos investidores segue voltada para a renda fixa, desde os títulos públicos até as emissões bancárias e corporativas.
Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, destaca que as taxas dos títulos de curto prazo tendem a se manter praticamente inalteradas nas próximas semanas. Isso reflete a expectativa de que o Copom mantenha a Selic estável até o fim do ano.
“Esse é também o nosso cenário base e, por isso, não projetamos grandes reações na curva de juros após a reunião desta semana”, afirma em relatório.
Os títulos IPCA+ continuam como a principal recomendação da casa, mesmo com a expectativa de inflação mais baixa nos próximos meses. A atratividade está concentrada nos juros reais, que seguem em patamares elevados.
O Tesouro IPCA+ 2029, por exemplo, oferece um prêmio acima de 7,5% — nível bem acima da média histórica.
Dolle também recomenda investimentos pós-fixados, como Tesouro Selic e CDBs, que continuam aproveitando o atual patamar da Selic até o início do ciclo de cortes.
Em ambos os casos, a XP sugere adotar a estratégia de carregar os títulos até o vencimento, garantindo o retorno total oferecido.
Segundo Dolle, estratégias focadas em ganho de capital por marcação a mercado não são as mais indicadas no cenário atual.
Mariana Pulegio, sócia da WIT Invest, também destaca a importância de aproveitar os juros altos na renda fixa, “mas sem deixar de olhar para a bolsa”. Ela recomenda empresas de setores voltados ao consumo interno, que tendem a se beneficiar com juros estáveis ou em queda.
Já para exportadoras ou companhias com maior exposição ao dólar, a especialista sugere cautela, por conta das tarifas de importação dos EUA e da esperada volatilidade cambial.
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